sexta-feira, 17 de junho de 2011

Dona Isolina, a mais velha da sala de aula

Gilberto Abelha/ Jornal de Londrina / Isolina (com o lenço na cabeça): “Ficar em casa sem fazer nada não é comigo”

Dona Isolina, a mais velha da sala de aula
Mineira de 100 anos não perde uma lição no programa de Educação de Jovens e Adultos em Londrina
Publicado em 25/05/2011 | Aurélio Cardoso, Jornal de Londrina

Apesar da idade, as mãos de Isolina Mendes Campos continuam firmes, assim como o propósito de ultrapassar os 100 anos, completados ontem, aprendendo. Com essa idade, dona Isolina é a estudante mais velha da Educação de Jovens e Adultos (EJA) de Londrina, no Norte do estado. Ela frequenta as aulas noturnas da Escola Municipal Moacyr Camargo Martins, no Conjunto Parigot de Souza, das 19 horas às 21h45.

Quase 20 alunos com mais de 45 anos dividem com Isolina a atenção da professora Selma Geraldino. Ela resolveu frequentar as aulas há 13 anos. Na sala, está sempre atenta. “Teve uma época em que parei de ir para a escola, mas deu saudade. Não gosto de ficar sem fazer nada. Eu não aprendo muito, mas ficar em casa sem fazer nada à noite não é comigo”, conta.

A diretora da escola lembra que os mais novos sempre querem saber da “vovó” e de onde ela tira fôlego para seguir estudando. “Os meninos queriam saber se ela tem uma letra bonita, se tem a mão firme e se consegue aprender tudo. Conto a eles que ela não foi alfabetizada, que o mais importante é se dispor a aprender e ter vontade de vir para a aula”, diz Regina Pierotti. “Eu escrevo, mas não conheço direito as letras”, ironiza Isolina.

O filho Raimundo, 62 anos, é quem cuida da mãe na casa onde moram, no Conjunto Ilda Mandarino. E afirma que a escola se transformou em uma terapia para a mãe. “Ela não gosta de ficar parada, gosta é de passear, viajar, conversar. A escola foi uma boa oportunidade. Mesmo que aprenda pouco, sempre é um ganho na idade dela.”

Rapadura

Dona Isolina nasceu em Felicina, em Minas Gerais, e ainda nova foi morar em Braúna, no interior paulista, onde o pai trabalhava em plantações de cana-de-açúcar. Lá, ela ajudava a fazer rapadura e tentava escapar da atenção do pai, que não permitia as fugas para namorar. “Meu pai não queria os meninos perto da gente. Fui namorar quando já tinha 16 anos e casar, só com 24 [com Francisco, falecido há 43 anos].” No domingo a mineira ganhou uma festa com quase 300 convidados, patrocinada por parentes e integrantes da igreja Congregação Cristã do Brasil.

Para chegar disposta aos 100 anos, Isolina acorda cedo, ferve água para o café e põe algo para cozinhar. Lava a louça suja e a roupa, mesmo que a filha peça para ela não fazer. “Nas casas que vai visitar, se vacilar, é ela que vai para o fogão”, conta a filha Celita, 60 anos, que veio de Minas para o aniversário.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.